sábado, julho 22, 2006

LÌBANO, A MESMA HISTÓRIA
Quem pretender uma narrativa sucinta, completa e equilibrada, em contexto histórico, da vida política no Líbano, leia:
O Líbano é exemplo e prova de que a multiracialidade e o multiculturalismo conduzem à guerra civil e ao caos absoluto. Se há um grupo nacional largamente maioritário que impõe um estilo e uma regra, podem acomodar-se pequenas minorias que enriquecem e dão colorido a uma sociedade, no respeito essencial por tal estilo e regra - em Roma sê como os romanos. Se são vários os grupos étnicos, religiosos, ou culturais, coexistindo, com influência notável, no mesmo espaço geográfico, o resultado é o desentendimento, o conflito agudo: no Líbano ou na ex-Jugoslávia - cristãos e muçulmanos -, na Europa do início da Idade Moderna ou na Irlanda do Norte actual - católicos e protestantes -, na Espanha do século XX - comunistas e gente normal -, etc, etc.
Um Estado partilhado entre dois grupos separados, ou melhor, entre os maiorais desses grupos, está condenado à indecisão e à fraqueza. Uma tal situação de instabilidade constitui perigo ou oportunidade para os vizinhos; assim, estes não demoram a preencher o vazio; são mais interesses a misturar-se num caldeirão que, rápidamente, ferve.
Ao longo do seu Mandato - 1920 a 1946 - foram os franceses que organizaram o Estado libanês e construiram as infraestruras portuárias, rodoviárias, educacionais e hospitalares do Líbano moderno. Encerrado esse período feliz, festejada a independência, o Líbano tornou-se um Estado feudalizado. Cristãos e muçulmanos regateiam o respectivo peso na direcção do Estado e na função pública. Os muçulmanos clamam que não estão suficientemente representados uma vez que (em demografia galopante) já se consideram superiores em número aos cristãos; estes, respondem que são responsáveis por 80% da criação da riqueza nacional. A coesão das Forças Armadas é constantemente posta em causa pois que entre os oficiais predominam cristãos sendo muçulmana a maioria dos soldados.
Os elementos da OLP (Organização de Libertação da Palestina) usam o Sul do Líbano como santuário para atacar impunemente Israel. Em 1970, a expulsão da OLP da Jordânia aumenta a sua presença no Líbano. Em 1975 a tensão crescente provoca a guerra civil entre cristãos e muçulmanos libaneses. As forças armadas libanesas não intervêem nos combates antes de se fragmentarem. A Síria, temendo a evidente influência deletéria da OLP na normalidade dos países onde se abriga, intervem a favor dos cristãos. Obtem-se a paz num país destruído. Mas a divisão étnica e religiosa permanece. Desde então, é a guerra civil permanente, complicada por lutas entre facções cristãs, entre si, e entre facções muçulmanas, e pela intervenção dos vizinhos, Síria e Israel. Nos anos oitenta, surge, temível, a influência do Irão que aí derrama novos e numerosos combatentes de Alá.
A actividade industrial, que já fora notável, declina devido à destruição do equipamento pela guerra. A produção agrícola- citrinos e trigo - reduz-se a um quinto do que fora nos anos 60.
Um sector prospera, adivinhe o leitor qual. O cultivo das drogas, primeiro o haxixe, depois, mais lucrativo, o ópio. Aí, todos lucram, cristãos e muçulmanos, e, em primeiro lugar, a OLP. Para o negócio da droga, a confusão da guerra é essencial a fim de estabelecer "terras de ninguém", cortinas de fumo.
O Líbano constitui uma lição para todos:
- Para os arautos do multiculturalismo: Não funciona!
- Para as almas sensíveis, admiradores dos OLPs, Hezbolas e outros "palestinianos": A sua prosperidade é a dos mafiosos, produção e comércio de droga. Será por tal que Arafat era tão rico?
- Para os patetas que se drogam ao som do "peace and love": A droga que consumis vem sempre a cheirar a sangue inocente!
- Para o cidadão vulgar, informado pelo telejornal: Do factor principal nunca se fala!
- Para os anarquistas puros, fiados na eficácia e equilíbrio das milícias privadas: O moderno feudalismo não funciona!
- Para os "nacionalistas" que pensam por reflexo condicionado: Uma coisa são os poderosos da finança internacional, as grandes famílias judaicas, outra coisa é um povo, Israel, que, como qualquer outro, quer viver em paz.
Na prática, tudo se baralha, a Verdade com que se engana, o oportunismo impiedoso e porco dos inúteis que fazem dinheiro fácil, a obliteração deliberada dos factos. "Ou há moralidade ou comem todos" diz o velho ditado português. Na prática, comem todos e não há moralidade nenhuma.
Bem pode vir o presidente libanês vituperar Israel, bem pode o jornalista entrevistar o pacato cidadão que "simpatiza com o Hezbola mas não é combatente", bem pode o PNR tomar posição "contra as operações militares levadas a cabo pelo exército israelita" e o Bloco de Esquerda "condenar a agressão israelita do Líbano" bem pode cada um fazer o seu teatrinho. O que verdadeiramente importará sempre não são as vítimas civis, as centenas de hoje e as centenas de milhar, de há trinta anos a esta parte, nesse país martirizado. A única verdade verdadeira, o "prime mover" gigantesco e aterrador, no Líbano, no Afganistão, na Colômbia, talvez na Venezuela, em qualquer lado onde o povo, privado pela guerra ou pelo regime político do sustento habitual e decente, se decide a tudo, é saber se a colheita do ópio e do haxixe vai ser boa, é saber se o caminho para o cais está livre e se a juventude, cá pelo Ocidente, continua burra.
O tabaco mata! Essa é boa!

4 Comments:

Blogger Rodrigo N.P. said...

Este comentário foi removido por um gestor do blogue.

7/26/2006 02:30:00 da tarde  
Blogger Rodrigo N.P. said...

Excelente texto, como é habitual. Porém, a conclusão sobre os interesses ligados ao tráfico de droga parecem pretender subalternozar a questão política. Não duvido que muitas dessas organizações de resist~encia sejam financiadas por negócios de droga, como pelo petróleo, mas o objectivo último é em minha opinião político.

7/26/2006 07:09:00 da tarde  
Blogger Rodrigo N.P. said...

leia-se «subalternizar» e «resistência», naturalmente.

7/26/2006 07:12:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

O texto, embora resumido, é bastante completo.
Apenas gostaria de chamar a atenção para a perseguição desapiedada, brutal, que os muçulmanos moveram aos cristãos. Há muito a dizer sobre esta barbárie.

Nuno

2/17/2007 07:10:00 da manhã  

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